Poética do Corpo



Um espaço para pensar, perceber e imaginar o corpo, abri-lo aos processos que o constituem, um convite ao leitor a encontrar sua poética, a permitir afetar-se e reconhecer-se em todas as formas de amor, loucura, procura de si mesmo que são autorizadas pelo espaço da poesia.
Um tal mundo assim, provavelmente nem chegaria a existir, tornando impossível absolutizá-lo, tocá-lo, senti-lo, não fosse a poética que emerge do corpo - suas dimensões, sensações, habitações.
O direito ao corpo é inseparável a democracia, assim como a incorporação das singularidades, etnias, gêneros e histórias. Pensar o corpo é pensar o que não pensamos: corpos/máquinas, corpos/espaços, corpos/significados, corpos/subjetivações, corpos/privações, corpos/relações, corpos/representações. Quem é o corpo? O que há nele que não conhecemos? Que memórias singulares o fazem diferente? Que gestos guardados extrapolam seus limiares? Que silêncios, músicas e danças o permeiam? Que penumbra e luz, revelam e escondem seus detalhes?
Poetizar o corpo é romper através da pele e músculos o que se sente, é permitir apaixonar-se doce e levemente em seu próprio abrigo, e abrir-se em um devaneio livre de pretenções, entre pequenos humores poéticos. Entre um sussuro e outro, uma orquestra de possibilidades. Entre um verso e outro, a vida nos invade gentilmente, ou intensamente até aonde a percepção sensória puder senti-la.
Somos um tanto de coisas que existem dentro de nós, contornados por um corpo - sempre presente no mesmo lugar, mas que também se manifestam a partir do "fora", o que constitui a abertura. Que sublime relação ambígua, complexa, e absolutamente perfeita do ponto de vista estético, plástico, belo.
Permitam-se o devir poético. Esse espaço é puro e mero acaso. Abraça e acolhe o agora e o que estar por vir, e abre-se para a experiência de estar na curva do rio, no milagre do olhar, no desconhecido seguro.






Eu-pele
pura inscrição
de cores, amores e humores
ao alcançe da mão.
Tocar-lhe como ato de indagar sem resposta,
fino tecido da existência exposta.
Muitas regiões de tato
quase sem contato,
pele-vida
tão somente solo,
marcas, dores e levezas..
rastros de história e memória.
O que fica no caminho é pele velha,
o que nasce é pele-flor.
O suor é a lágrima da pele..
Pele-leve,
des-vele "si".













Nenhum comentário:

Postar um comentário